Imaginamos que quem constrói uma casa em SP gostaria de diluir os limites entre espaços abertos e fechados, dentro e fora, cobertos e descobertos, aproveitando nosso clima. O projeto interpreta esse desejo num lote com dez metros de largura, típico do simpático bairro Jardim Paulistano, local privilegiado da cidade com comércio, serviços, arborização e infraestrutura. O desenho visa envolver a edificação com jardins, terraços, varandas em extensão aos interiores, formando um ambiente único. A operação principal foi dispor a construção longitudinalmente ao longo do terreno, linear, mantendo metade da largura livre com cinco metros. Assim, a vegetação fica na porção norte, garantindo recuo para insolação e aeração permanente à casa que encosta na divisa oposta. O lote se amplia, pois o comprimento de maior dimensão fica livre, reforçando essa percepção de amplitude com varandas, pátios e a transparência da sala de estar. Essa implantação poderia ser convocada como regra de ocupação desses bairros de sobrados. O teto-jardim possibilita vista ampla, associando a moradia à paisagem urbana e à geografia, além de definir a cobertura em estrutura de concreto. Dois apoios e o muro de divisa sustentam esse piso e penduram, em estrutura metálica, o andar intermediário, dos dormitórios. Uma claraboia contínua junto à divisa permite a iluminação natural da circulação interna e associa o interior da casa ao céu. Ao fundo, um segundo bloco torna-se visível desde a rua e cria um anteparo ao alto volume vizinho na divisa posterior. Com serviços no térreo e estúdio no primeiro pavimento, se conecta ao corpo principal por uma varanda que pode estar coberta, ou descoberta, por um sistema retrátil. A escada aberta é o acesso à cobertura. A casa de “sol e sombra” para abrigar a vida dos moradores, como ensinou Marcel Breuer, está presente nas dualidades que compõe esse projeto: concreta, porosa, leve, pesada, opaca, transparente, bruta, delicada, material, vegetal, gravítica e aérea.