Originalmente apresentado como Tese de Doutorado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (2018), “Várzea do Tietê: projeto e urbanização marginal” recebeu diversos prêmios. Em 2021, foi editada pela FAUUSP em versão digital e impressa, ambas com distribuição integralmente gratuita. O livro preenche uma lacuna na literatura sobre as complexas relações entre arquitetura e infraestrutura, colocando à disposição do público uma obra que evidencia, em texto e imagens, os diversos ideários, interesses e ações que viabilizaram uma das obras mais emblemáticas da incompleta modernização brasileira: a transformação de um trecho do Rio Tietê na cidade de São Paulo, em principal estrutura metropolitana brasileira. Para isso, o livro, organizado em duas partes, recorre à geografia, à cartografia e seus discursos, à recuperação histórica, à leitura crítica da engenharia infraestrutural e ao projeto, através de uma abordagem multiescalar e multidisciplinar, que procura reconstituir a história das escolhas brasileiras para sua principal metrópole e suas consequências para a arquitetura. Nesse percurso, o livro procura esclarecer qual foi e qual poderia ser, hoje, o projeto para a Várzea do Tietê, tomando-o como exemplar dos complexos e desiguais processos de infraestruturação latinoamericana. Na primeira parte, os projetos para a Várzea do Tietê, apresentados entre as décadas de 1880 e 2000, foram recuperados, demonstrando que sua ocupação, apesar de longamente planejada e debatida, não foi capaz de promover um padrão de urbanização distinto daquele observado em grande parte do meio urbano latinoamericano, no qual a precariedade urbana e o comprometimento ambiental prevaleceram. As obras de urbanização da vasta Várzea do Tietê, por todo o século XX, foram concentradas na retificação do corpo principal do Rio e suas avenidas marginais, sem que se formulasse um plano de ações coordenadas para a ocupação e o saneamento das novas terras criadas, resultando em uma grande faixa com graves problemas sociais, ambientais e urbanos, que persistem até hoje e que a caracterizam como grande área técnica, funcional e degradada da metrópole. A divisão do livro em duas partes equivalentes, O Projeto Incompleto e O Projeto a Retomar, corresponde à importância que as duas dimensões – analítica, condicionada pela realidade material, e propositiva, estimulada por um projeto – tiveram ao longo desse percurso e sua indissociabilidade. Na segunda parte, discute-se o atual papel metropolitano da Várzea do Tietê, quando novas concepções urbanas, pautadas pela agenda do uso sustentável dos recursos e pela reconfiguração do setor produtivo passaram a sinalizar a possibilidade de revisão das estruturas urbanas cristalizadas nesse lugar. Através de um projeto, a obra explora essa unidade territorial e paisagística, discutindo hipóteses para sua reestruturação e contribuição a futuros ciclos de transformação urbana. O projeto partiu daquilo que instigou sua incorporação à cidade – os recursos públicos, o solo e a água. Para um lugar tão significativo, não poderia deixar de assumir premissas que se imaginam válidas a longo prazo: a reparação de erros urbanos e ambientais, a implantação integral do programa de necessidades da urbanização e a prevalência dos espaços públicos de apropriação coletiva.